Eu não lembro se foi em 2005 ou 2006 quando decidi dividir a casa com uma colega de trabalho. Eu já morava sozinha há uns dois anos - e estava muito bem assim - mas percebi que começava a gostar cada vez mais de ficar isolada das pessoas, o que pode ser um problema, principalmente porque, na época, eu trabalhava na área de comunicação.
Quando saía de casa, não via a hora de voltar para a tranquilidade do meu lar. Em razão do meu trabalho, eu passava o dia todo conversando e interagindo com outras pessoas. À noite, só queria ficar quietinha no meu canto.
Minha decisão por dividir a casa foi tomada depois de muito refletir sobre os prós e contras de levar uma vida isolada. Eu estava me tornando um "bicho do mato" e comecei a me preocupar com isso, apesar de não achar ruim ter apenas a minha companhia.
Dividir o espaço com alguém seria um exercício que eu precisava começar a praticar.
Fiz o convite à minha colega que, depois de visitar a minha casa e ver como eu vivia, topou o desafio. Antes, porém, combinamos de escrever tudo o que nos incomodaria na convivência, fazer uma lista do que poderíamos tolerar e o que não aceitaríamos de jeito nenhum.
Mesmo com as diferenças listadas, resolvemos encarar.
Minha mãe foi a única que me deu um conselho na época: "se uma louça suja te incomodar, lave você mesma. Não perca seu tempo tentando convencer os outros a arrumar algo que incomoda você."
Um sábio conselho, porém muito difícil de ser praticado. Se temos o hábito de lavar o que sujamos, automaticamente esperamos que as outras pessoas, especialmente aquelas com quem dividimos a casa, façam o mesmo. Quando não fazem, começamos a nos sentir usados, a acreditar que somente nós nos esforçamos para as coisas darem certo.
É assim com a louça, é assim com tudo.
Convivi dois anos com essa colega que, ao longo desse tempo, se tornou uma grande amiga. Com ela, aprendi a não deixar cabelo no ralo do banheiro apesar de não conseguir mudar o hábito de pendurar a calcinha no chuveiro. Troquei as novelas pelas séries dos canais pagos. Voltei a gostar de conversar à noite e, principalmente, de colocar em prática o ditado "mais vale um gosto do que um dinheiro no bolso".
Hoje, divido a casa com o homem que amo, que escolhi para estar ao meu lado na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, em todos os dias da minha vida. E cada dia é um novo aprendizado, uma nova forma de ver (e entender) as coisas sob os olhos dele.
Se é verdade que a vida é uma escola, ainda estou longe de me formar no módulo "compartilhar a vida". Espero, sinceramente, conseguir.
Um comentário:
Oi Karina,
Ótimo conselho de sua mãe. Meu marido também tem essa filosofia. Quando ele vê algo errado ou por fazer, sua primeira reação é corrigir ou fazer e só depois, dependendo da gravidade, conversar com a outra pessoa. Ele diz que isso evita stress e perda de tempo.
Eu já perdi muito tempo na vida tentando dar lição nos outros e honestamente acho que ninguém aprende nada com um "educador" estressado e nervoso.
Sua mãe lhe deu um sábio conselho. Agradeça a Deus por ela!
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