domingo, 3 de março de 2013

É ISSO QUE EU SOU

Eu sempre me achei estranha.
Nunca fui muito de sair, embora me sinta à vontade em quase todo lugar.

Enquanto, na adolescência, minhas irmãs tentavam convencer meus pais a deixá-las chegar em casa cada vez mais tarde no sábado à noite, minha alegria era ficar deitada no sofá assistindo Telecine.

É claro que tive minha época de ir para as "baladas", mas acho que era mais para me sentir "normal" como as outras pessoas do que por querer sair de casa. Gostava mesmo era da minha cama quentinha.

No colégio, nunca fiz amizade com muitas pessoas, embora conversasse com todo mundo. Conto nos dedos das mãos o número de pessoas pelas quais me interessei em manter um convívio mais próximo.

Nunca fui muito popular, embora sempre tenha sido uma pessoa extrovertida e que contava as melhores piadas nas rodinhas. Tinha uma capacidade de imaginar as cenas narradas nas piadas que me ajudava muito na hora de interpretar os "causos".

Quando chegou o momento de escolher o caminho profissional, tive que optar entre o jornalismo e o teatro. Fiz teste para os dois. Passei nos dois. Fiquei com a primeira opção.

Até os 25 anos, fui mais de escutar que de falar. Por conta disso, levei muito desaforo pra casa, tive gastrite pelos sapos que engoli e pelas mágoas que eu não soube reclamar. Em compensação, desenvolvi a habilidade de escrever, o que, para o jornalismo, era um ingrediente fundamental das atividades de um repórter.

O medo de falar foi, aos poucos, diminuindo e, hoje, falo o que sinto vontade sem me importar se quem está ouvindo vai se magoar ou não. Geralmente, pego as pessoas de surpresa, principalmente aquelas que costumam expressar suas opiniões por meio de ironias, sem ter coragem suficiente para falar o que realmente pensam. Sei exatamente como magoar, como pegar no ponto fraco, como fazer uma pessoa pensar no quão insignificante ela pode ser. Jamais dou a desculpa que ajo assim sem pensar.

Por ser assim, já fui - e ainda sou - rotulada de rude e grossa. Na realidade, sou transparente demais. Talvez de um modo para o qual as pessoas ainda não estejam preparadas. Para muitos, é mais fácil e cômodo fingir que aceitam uma situação que detestam, sorrir quando a vontade é de rosnar, fechar os olhos para algo que fere seus princípios.

Se eu quisesse ser assim, minha escolha teria sido o teatro, não o jornalismo.

Pago um preço alto por ser eu mesma. Continuo contando nos dedos das mãos as pessoas que posso chamar de amigas verdadeiras. Segundo minha mãe, ou você me ama ou me odeia. Não existe meio termo. Não faço questão que exista.

Um dia, talvez, eu me canse de expressar o que eu sinto de verdade, de falar sobre o que me incomoda, decida pelo caminho do teatro e me torne uma atriz na vida real. Quem sabe?

Hoje, no entanto, é isso que eu sou.

Um comentário:

Lucimara Fernandes disse...

Ká,
Como já te falei um vez, repito: "Isso não é um defeito, apenas a sua característica!". E quem gosta de você, gosta do jeito que é! Quem não gosta, paciência, não sabe o que está perdendo... rs.
Parabéns pela escolha! O jornalismo é a sua cara! Admiro o seu texto e a sua maneira simples de narrar um fato, capaz de ser clara com diversos públicos ao mesmo tempo! Aprendi muito acompanhando o seu trabalho de perto e aprendo até hoje com os seus esclarecimentos para as minhas dúvidas gramaticais... rs.
Por tudo o que já vivemos juntas, acredito que sobre um dedinho da sua mão para me representar na sua vida... Assim espero... rs.
Grande beijo!