segunda-feira, 4 de abril de 2016

CARTA DE UM CÃO ESPECIAL

Querido papai,

Eu não sei o que deu em mim...

A sexta-feira começou como outro dia qualquer. Você nos deu comida e foi aquela agitação, como acontece todas as manhãs, quando disputamos a ração gostosa que você coloca para nós.

Hoje, eu acordei inquieto. Senti vontade de fazer algo diferente, algo que nunca tinha feito antes.

A Pê e a Ká já haviam me contado como era bom ser desobediente de vez em quando e colocar as patas na estrada, mas eu sempre preferi ficar em casa para não deixar você preocupado.

Mas esta sexta-feira foi diferente. Eu acordei com saudade de mim. Saudade do meu instinto de correr livremente por aí, perseguindo animais como se nada nem ninguém pudesse me pegar.

E eu resolvi arriscar.

Fui em direção aquele lugar movimentado, que minhas irmãs já tinham ido antes. E do qual tinham voltado inteiras.

Deve ser um lugar que vale a pena, pois elas sempre voltam para lá, mesmo com a bronca que você dá depois que eles fazem isso.

Aproveitei que você nunca precisou se preocupar comigo e fui atrás de uma aventura.

Quando passei pela porteira, minha alegria era tanta que nem eu mesmo poderia imaginar. São tantas direções, cheiros, sons...

Fazer o que se tem vontade é uma sensação deliciosa, mas tem seu preço. Você se diverte um pouco, mas está sujeito a riscos que, na segurança do seu lar, você jamais se sujeitaria.

Juro que eu tentei tomar cuidado, mas demorei para decidir se deveria ir adiante ou voltar para trás e, quando me dei conta, senti um tranco que me tirou o fôlego. E a vida.

Foi a primeira vez que fiquei sozinho.

Queria ter tido tempo para me despedir, mas eu não suportaria olhar nos seus olhos e ver a dor que eu causei a você e à mamãe.

Queria ter tido tempo para te mostrar como eu amei ter ido para o sítio e ter te acompanhado nas vistorias dos nossos açaís.

Eu espero que meus abraços em todos esses anos tenham sido suficientes para expressar o amor que eu sinto por vocês.

Por favor, lembre do meu abraço e fique bem.

Vocês têm muitos filhos peludos para amar. Eles precisam de vocês. A mamãe também precisa de você.

Eu sei que vocês nunca vão esquecer de mim.

2 comentários:

Victor disse...

Meu amor não consigo para de chorar ainda o peito doe e doe muito estou me sentido muito triste meio sem vontade de fazer as coisas do dia a dia, estou meio anestesiado. Mas acredito que vai passar e poder retornar ao normal ou a nova fase sem o Max. te amo Ka .

Lucimara Fernandes disse...

Kaká,é muito triste nos despedir daqueles que amamos, sejam eles humanos ou bichinhos peludos... Sei o que você e o Victor estão passando e sinto muito por isso... Mas quando se compreende a alma de um animalzinho, como você demonstrou neste texto, tudo se torna mais fácil... Te admiro muito, amiga! bjs