sábado, 10 de setembro de 2011

O MUNDO ESTÁ AO CONTRÁRIO...

Confesso que eu não sou muito chegada em música. Quer dizer... eu gosto de música, mas não sou do tipo que fica com o rádio ligado ou escutando CDs o tempo todo. Nem mesmo tenho o hábito de comprar CDs (os poucos CDs que comprei, no entanto, são originais, que fique bem claro).

Para ser bem sincera, o que eu mais curto na música é a letra. Quanto mais dífícil de ser interpretada, mais eu gosto.

Eu explico: o título deste texto é um trecho da música Relicário, de Nando Reis, ex-Titãs. Nessa música, há uma sucessão de frases que, aparentemente, não têm sentido, mas que estimulam minha imaginação a tentar decifrar o que o compositor estava querendo expressar quando escreveu a letra. Especificamente sobre o trecho - "...o que está acontecendo? O mundo está ao contrário e ninguém reparou..." - fico me perguntando: como ele chegou à conclusão de que as coisas não estão da forma como deveriam estar? Será que ele fala de pessoas achando normal a corrupção, a falta de caráter, o descaso com os problemas sociais? Ou, quando vou mais além na letra, na parte que ele repete a pergunta acrescentando a frase"...eu estava em paz quando você chegou?", imagino se ele levava uma vida disciplinada, cheia de horários e compromissos e encontrou um amor que virou essa rotina de ponta cabeça.

Adoro fazer isso. E acho impressionante a capacidade que os compositores têm de expressar os nossos sentimentos nas músicas que escrevem.

Minha interpretação da letra da música (ou de um trecho dela) depende do meu estado de espírito no momento. Raramente chego num consenso comigo mesma sobre o significado final que ela tem para mim. Se estou emocional, interpreto de uma forma romântica. Se estou mais racional, tento entender o contexto social ou político da época em que foi escrita para chegar às minhas conclusões.

Pode ser que milhares de pessoas façam o mesmo. E o mais legal é que cada uma delas tem uma interpretação própria, que pode ser completamente diferente da minha.

Um dia desses, encasquetei com um trecho da música "Codinome Beija-flor", do Cazuza. Sempre achei que ela conta um caso de amor, em que um dos protagonistas tem que se esconder atrás do apelido que dá nome à música. Provavelmente, por ser casado ou por ter medo de assumir uma opção sexual.

Recentemente, no entanto, interpretei um trecho desta música de outra forma. É a parte que fala "você sonhava acordada, um jeito de não sentir dor... prendia o choro e aguava o bom do amor..." Para mim, ele fala das vezes que idealizamos uma pessoa e vivemos em função dessa imagem que construímos na nossa cabeça. Acreditamos nessa fantasia por ser difícil encarar a realidade. Engolimos a vontade de chorar quando percebemos que as coisas não são como gostaríamos e esse choro que não vem à tona alimenta nossa admiração pelo lado bom da pessoa amada.

Que viagem, hein?

2 comentários:

victor disse...

Oi meu amor, alem de escrever bem voce tambem viaja muito bem. Uma letra bem escrita é uma arte. E nada melhor do que viajar nessas lindas letras. beijos

Anônimo disse...

Oi fofa,

Adorei seu "tour" nas letras.

Bjs

Matê