domingo, 15 de julho de 2012

ATO FALHO OU MÁGOA GUARDADA POR TANTO TEMPO

Eu não sei o que é pior: ato falho ou mágoa guardada por muito tempo.

O primeiro, explica Freud, é um equívoco na fala, na memória ou em uma atuação física, provocado, supostamente, pelo inconsciente. Em resumo, se entendi corretamente, é um desejo inconsciente, reprimido, que vem à tona de repente e que está fora do nosso controle.

Já a segunda, a mágoa, é um descontentamento real com alguém ou alguma coisa, que pode durar por muito tempo. Diferente do ato falho, é um sentimento consciente, mas que a maioria das pessoas prefere não expressar, principalmente para quem foi o motivo desse descontentamento. Acho que posso dizer que a mágoa é o resultado dos "sapos" que engolimos durante a vida e que, para não criar atrito ou confusão, preferimos deixar passar.

Tanto um quanto o outro, no entanto, podem se revelar quando nós menos esperamos e, aí, causar uma bela confusão.

No caso do ato falho, por exemplo, imagine trocar o nome do seu marido ou da sua namorada pelo de um ex. Imediatamente, podem surgir questionamentos se existe uma saudade, uma situação mal resolvida ou, até, se você anda se encontrando com outra pessoa às escondidas.

A mágoa guardada, quando revelada subitamente, pode causar tristeza em quem está ouvindo o desabafo, principalmente porque é difícil entender porque as pessoas não falam o que as incomodam no momento em que estão sendo incomodadas. E aí não adianta dizer que esse desabafo foi sem querer.

É sobre esse ponto que quero refletir.

Às vezes, preferimos engolir um "sapo" em nome da preservação de um amor ou amizade. Não concordamos com determinados posicionamentos ou atitudes, mas, mesmo assim, nos calamos para não levantar uma discussão.

Diz a história que aquele que não se manifesta contra uma atitude concorda com ela. Daí a expressão "quem cala, consente".

Todo mundo tem direito de expressar o que sente, o que gosta e o que desgosta, principalmente em relação às atitudes de outras pessoas. Mas isso tem que ser feito no momento certo, ou seja, o mais rapidamente possível. Não é justo deixar uma mágoa ir se acumulando por tanto tempo e, de repente, vomitá-la na cara de alguém que, provavelmente, nem vai se lembrar do que aconteceu no passado. Isso sim pode abalar um relacionamento.

Se não expressamos nosso sentimento no momento certo, não é culpa do outro. É nossa culpa.

É importante ter a humildade de entender que as pessoas são diferentes. O que causa sofrimento a um pode ser completamente normal para outro. O fato de alguém não ter a mesma opinião que você e não apoiar algumas de suas atitudes, não significa que ele não gosta de você. Significa, apenas, que para esse assunto ele não concorda com você. É simples assim.

Nós passamos muito tempo sofrendo por acreditar que as pessoas devem ter as mesmas atitudes que nós teríamos em determinadas situações. Isso é muito desgastante e faz com que nossa energia seja direcionada para algo que não podemos controlar.

Por isso, se você tem uma mágoa acumulada, não espere que ela se revele subitamente no dia em que alguém pisar no seu calo. Analise se ainda é tempo de conversar ou se não é melhor deixar pra lá...

2 comentários:

Rosangela disse...

As mágoas causam doença. É preciso resolver as questões no momento em que acontecem, pois a mágoa cresce com o tempo, torrna-se dor, sufoca.

Marli disse...

Oi Karina, o díficil é justamente a análise de quando é tempo de se discutir um assunto delicado o mais rápido possível (como a mágoa causada), ou deixar a raiva secar (como escrevi há algum tempo). Já houve situações em que falei o que sentia rapidamente (isso faço com bastante freqüência) e outras que depois de deixar a raiva passar, vejo que não vale a pena trazer o assunto à tona. Infelizmente ter sabedoria para saber como expressar um descontentamento é que é a questão.
Interessante esta reflexão!