domingo, 2 de setembro de 2012

EVOLUÇÃO SEM CONEXÃO

Depois de muito tempo recebendo extrato bancário e do cartão de crédito em casa, decidi escutar minha consciência ecológica e trocar o papel pelos arquivos digitais.
Na realidade, escutei os apelos do meu banco, que insistia em abrir uma janela mencionando todos os benefícios do arquivo eletrônico. Aquela risada gostosa do bebê rasgando papel na propaganda da TV também ajudou.

Confesso que fiquei meio receosa em trocar, pois acessar um arquivo digital exige mais paciência do que abrir um envelope comum. Os dedos precisam passar por muitos ícones no site do banco antes de chegarem ao destino final. Quando é papel, a única coisa que temos que fazer é rasgar o envelope e ler.

No começo, é um pouco chato, mas me acostumei. Aliás, voltei ao velho hábito de não consultar o meu extrato - muitas vezes, os envelopes eram arquivados da mesma forma que chegavam na minha casa - lacrados.

E foi assim, feliz da vida pela minha humilde contribuição para um mundo mais sustentável, que tive uma bela surpresa quando, ao tentar abrir uma conta em um outro banco, fui orientada a apresentar um comprovante de residência que fosse, de preferência, uma correspondência impressa de banco - extrato da conta corrente ou do cartão de crédito.

Imagine a minha cara ao contar ao Gerente do banco que eu não possuo esses documentos impressos. Aliás, expliquei para ele, só aderi ao arquivo eletrônico porque fui muito incentivada pelo banco. Como vocês podem exigir um documento que está em vias de extinção? E se todo mundo aderir ao arquivo eletrônico, como poderemos comprovar onde moramos?

Ele me deu uma alternativa: pode ser uma conta de água ou de luz no seu nome. Não tenho, respondi. Moro de aluguel e essas contas estão no nome do proprietário da casa.

E algum documento no nome do seu marido? Não tenho o sobrenome dele, respondi.
Pode apresentar a certidão de casamento, insistiu. Não sou casada no papel.

Para resumir, eu não tenho como comprovar onde moro, tudo porque resolvi adotar uma atitude mais sustentável, porque ainda não tenho casa própria e, também, porque não quis formalizar meu casamento da forma tradicional reconhecida pela sociedade, apesar da união estável ser reconhecida perante a lei, mesmo sem um documento formal.

O mais interessante é ver que as coisas evoluem, mas não estão conectadas ou não consideram alguns aspectos da realidade. Um bom exemplo é o preenchimento de cadastro em lojas. Já tive que informar telefone residencial da casa dos meus pais por não ter telefone residencial. O cadastro não poderia ser concluído sem que um número residencial fosse informado. E o meu direito de usar, apenas, o telefone celular?

Será que evolução é isso? Primeiro as coisas mudam e depois vão se encaixando aos poucos?

Talvez, se alguém pensasse em todas as conexões necessárias antes de propor a evolução, ela não sairia do papel. Espero que, com o tempo, as coisas se conectem. Vamos ver...





2 comentários:

Lucimara Fernandes disse...

Ká,
Parece piada, né? Mas o problema é a falta de visão das consequências desta "suposta" evolução, pois mudam as tecnologias, mas não se preocupam com as pessoas, em comunicar as mudanças, não analisam os possíveis problemas que esta mudança pode causar no sistema como um todo!
As mudanças, por si só, já geram resistências... e se não forem bem analisadas, geram conflitos, como este que você passou.
Mas a gente chega lá... rs. As evoluções tecnológicas são importantes, pois são elas que nos trouxeram até aqui, agora falta o homem acompanhar esta mudança... rs.
Parabéns pelo texto! Muito bom!
Grande beijo!

Unknown disse...

O cuidado com as nossas florestas deve ser nosso sabatina.
Cada papel impresso contribui para um ambiente obscuro. Durante os anos escolares, ou no nosso escritório, já imaginou quanto papel imprimimos? Após o meu ultimo ano de SENAI eu fiz uma limpa na minha casa. De apostilas a projetos, desenhos, trabalhos escolares etc; fiquei espantado quando juntei quatro caixas de tanto papel. Acho que tinha uma arvore por caixa. “Exagero”
Eu sou a favor dos meios eletrônicos. Embora não sei como dominar bem tanta tecnologia.
Li um matéria recentemente, que dava enfoque num assunto um pouco similar. Dizia que logo poderemos implantar um chip eletrônico com todos os nossos dados. Até mesmo onde moramos. Só achei ruim quando a matéria dizia que os dados bancários também poderiam ser incluso. De forma alguma eu usaria este chip. Imagine um ladrão me cortando procurando o tal chip. Que coisa!!!
Como disse: “Evolução sem considera aspecto da realidade”.
Gostei da matéria.
Abraço