domingo, 16 de março de 2014

O GATO

Quem nunca conviveu com um gato, não tem propriedade para falar sobre ele.

Mesmo assim, tem gente que enche a boca pra afirmar que o gato não se interessa pelo dono e, sim, pela casa do dono.

O grande equívoco começa aí: um gato não tem dono.

Quem convive com um gato sabe que ele é o dono do próprio nariz. Permanecer ao nosso lado é uma decisão do gato e não do ser humano. É impossível obrigar um gato a ficar onde ele não quer.

Talvez essa seja a razão pela qual algumas pessoas criticam o gato. Educadas para relevar coisas que não gostam, a permanecer onde não se sentem à vontade, a agradar quem não faz por merecer, algumas pessoas sentem-se incomodadas ao se deparar com um ser que tem a liberdade de ir e vir a hora que bem entender. Essa atitude do gato faz com que elas dêem-se conta do quão limitada sua vida pode ser quando têm que se preocupar com a opinião dos outros.

Quem nunca foi escolhido por um gato, não tem propriedade para falar sobre ele.

Um gato é um exemplo de que para conviver com a diversidade é necessário respeito e paciência. Não se pode tratar um gato como um cachorro e, muito menos, esperar que ele tenha as mesmas atitudes que um cachorro teria em relação a você.

Ele não vai fazer um estardalhaço se algum ladrão tentar invadir sua casa, mas vai demonstrar claramente quando alguém não for bom pra você.

Talvez essa seja a razão pela qual algumas pessoas criticam o gato. Preocupadas em ser aceitas por uma sociedade que se preocupa mais com o "ter" do que com o "ser", algumas pessoas sentem-se incomodadas com um animal que tem a capacidade de "ler" as reais intenções do ser humano e de escolher se afastar ao entender que isso não é bom para ele. Isso faz com que elas percebam o quanto gastam seu tempo atuando para mostrar o que não são.

Quem nunca foi encarado por um gato, não tem propriedade para falar sobre ele.

Não tem nada mais questionador quando um gato olha fixamente pra você e te faz imaginar o que ele está pensando.

Nos seus momentos de angústia, medo ou tristeza, uma gato senta no seu colo e, com toda a simplicidade do mundo, olha fixamente pra você. Nesse momento, tudo o que te aflige e te atormenta fica em segundo plano e você só deseja saber o que passa pela cabeça dele, esquecendo dos próprios problemas.

Nessa hora, ele parece dizer: seja o que for, estou ao seu lado. Mas, ao mesmo tempo, parece perguntar: o que você vai fazer para sair dessa?

Talvez essa seja a razão pela qual algumas pessoas criticam o gato. Ansiosas por receber apoio até mesmo quando estão erradas, algumas pessoas sentem-se incomodadas quando um ser olha fundo para a sua alma como que lembrando que o mundo não está ali para passar a mão na cabeça delas. Isso faz com que elas reconheçam o quanto posam de vítimas diante das situações que elas mesmas escolheram viver.

Um gato dorme, come, brinca e se afasta quando bem entende.

Independente nas suas atitudes e escolhas, consegue ser leve e marcante no momento certo. Não finge, não aceita o que não gosta, não faz o que não quer.

Não é mais nem menos. É o que a maioria de nós tenta ser: livre.

3 comentários:

victor disse...

Maravilhoso esse ensaio filosofico, parabens, super beijo

Railton disse...

Concordo com você Karina.
Um bom texto.
Abraço!!

Marli disse...

Gostei, mesmo não tendo gatos nem cachorros, tenho amigos gatos e cachorros. Muito interessante!